Não tenho nenhuma intenção (ou medo) de parecer piegas ou triste ao relembrar aqui pessoas que já fizeram sua passagem desta Terra. Justamente porque falo de emoções lindas, boas e que renderam à minha vida muita poesia.
Um amigo me lembrou que hoje é a data de aniversário de Raphael Rabello, este grande menino que se ainda estivesse por aqui, faria hoje 49 anos. Minha experiência com a obra de Raphael é ainda crescente, cada vez conheço e gosto evidentemente mais de suas composições e também cada vez mais adquiro competência para compreender seu violão. Quero dizer, ganho ouvidos. Competência mesmo, não possuo qualquer.
É bom poder relembrar esta data feliz de quando o Brasil ganhou Raphael, que nasceu sortudo numa família musical e grande, de personalidades marcantes como a sua e de onde retirou sua coragem e dedicação para tornar-se um de nossos maiores violonistas de todos os tempos. Quando a família é grande e unida, parece que a força se multiplica.
E foi sobre família, amor e aprendizado, que me lembrei hoje quando dei conta de que Raphael aniversariaria. Eu ainda era bem menina quando ele partiu. Mas me lembro perfeitamente do dia, da hora do almoço, quando pela primeira vez em toda a minha vida até então, eu ví o meu pai - amante de música e em especial de violão - chorar em frente à televisão.
Eu me lembro que não entendi nada, achei que ele estava brincando e tentei animá-lo com cócegas. Não me lembro de tê-lo visto chorar antes disso.
Mas como ele não parava e estava muito emocionado, sentei ao seu lado no sofá e perguntei:
- "Pai, por que você está chorando ? " - Já eu começando a chorar também, louca por ele que sou desde sempre.
Só sei que o ouvi responder que naquele dia a gente tinha perdido o maior violonista de todos, o que ele mais admirava. Tinha comprado um CD novo do tal rapaz, e colocou para tocar bem alto no carro, enquanto me levava para a escola:
- "Ele se chamava Raphael Rabello, filha. É este aqui da foto".
Depois disso ví muitas vezes meu pai chorar, talvez tenha sido o dia em que descobri que ele também podia ficar triste. Acho até que quanto mais ele amadurece, melhor fica do coração, porque se emociona e chora hoje com liberdade, ainda mais pelas coisas felizes. E daquele dia, só me restou pra sempre a impressão de que o amor de meu pai por aquele rapaz era uma coisa meio paternal, como por mim. Ele botava muita fé no menino, sentiu sua perda. Volta e meia, quando hoje eu pego seu carro para rodar pela cidade, é a Raphael que gosto de ouvir também, como uma tradição emotiva que se cria.
Que bom que Raphael nasceu, viveu e existe. Um salve a este mestre da emoção.
Bonita a sua homenagem, Iara!
ResponderExcluirNão sabia desse seu lado cronista!
Foi mesmo assim quando Rapahel morreu! As pessoas tiveram essa reação que o seu pai teve! Ele era muito querido não só pelo violão que tocava mas pela pessoa que era, pela doçura, pela gargalhada incomparável e inesquecível!
Obrigada!