sábado, 30 de maio de 2009

Todas aquelas coisas, Mariana.


Mariana nua, de ventre de Nilo, sabes bem que é sua a dor e o destilo,

De carnes tão vermelhas-cruas,
De uma cachaça de milho,
De todo o torpor das ruas, e do choro de um filho.
Nua neste solo fértil, em época de vacas magras
Não te abomines o mundo, não te canses de afiar as garras...este é teu Eu mais profundo,

estas são minhas amarras. Nua, bela e morena, há de cuspir longe, há de mostrar as penas, há de pintar do mesmo

- vermelho carne-

tuas entranhas,
há de ser só você,
nua,
poema,
Mariana.

terça-feira, 26 de maio de 2009

(Pra você que às vezes teima em esquecer da razão de meu afeto...)

Não sei se te acordes, ou cordas, pudera!
Las calles que me ouviram, tu nunca conheceras.

Em todos os ouvidos, me olvidan, yo sei
Mistura de gringo com índio, es lo que me pareces usted.
Cruzado em teu peito, colar feito d’alma
Mistura mais que buena, tua energia e minha calma
Maracas la salsa, ganzá tamborim
Foi minha comadre, su madre, quem fez você só pra mim
Um cheiro de hombre, seus olhos de estrela
A voz de trovão, que sussurra à orelha
Me ensina, me acolhe, me deixa menina,
Foi o mundo, a vida ou a América Latina?
Quem te fez capaz de me ter caliente en sus brazos
Sem cerimônia, sem medo e sem embaraço
E me fez saber, mesmo que esperneasse
Que és só tu que hoy, contenta me haces.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Das dores de Dolores

Dolores,
Eu te chamava porque tinhas tantas
Dolores, nem uma semana tinhas e ainda assim já tão cheia
De uma inconformidade, uma veia de não querer
Dolores,
Eu te amei porque eras frágil,
Eu te quis cuidar as dores,
Eu te quis encher a pança,
Eu te quis ver caminhar...
E que paradoxal desejo, quando tu respiravas e eu não sabia
Se era porque ficavas,
Ou se era porque ias,
Dolores eu te imagino não tendo.
Nem remoendo, nem torcendo o pescoço,
Dolores, eu te daria um osso,
Eu te mudaria pra sempre o nome
E jamais contaria a ninguém das tuas
Dolores,
E quando perguntassem, poderias apenas dizer-lhes
Que te chamassem de Maria.
Maria dos Prazeres.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um poema para Giuliana


Giuliana, eu sei!

Eu te prometi um poema.

Um poema belo e doce, um poema cheio de notas maiores, talvez em escala de Sol, um poema que contasse pro mundo o quanto você gosta de música, o quanto você quer e tenta aprender a tocar este violão.

Só que algo se sucedeu, cara mia.

Algo desandou neste entremeio, e sabe o que foi?
Foi que eu descobri Giuliana, algo de grande importância: descobri que mais do que você gosta da música, é a música quem gosta de você!
Afinal, se enfim você dominar todas as técnicas de violão, flauta, cântale e voz, que será de seus instrumentos que tanto te querem agarradinha à eles?
O que será de teus incansáveis caderninhos, de letras e cifras, que não se enfadonham em te acompanharem para lá e para cá?
Resolvido, minha amiga, não posso te fazer um poema bem-escrito sobre o seu amor pela música. Só posso dizer, poeticamente, que você é responsável por muito da música que há no mundo, por sua beleza, por sua alegria. É por te amar tanto que a música não te deixa, que ela te acompanha a cada passo, em cada canto, todos os dias de sua vida.
E quer saber mais?
Te acho uma guerreira, uma guerreira da música. E acho também que não tem importância se você demorar uns meses para aprender a tocar aquela canção que tanto quer, aquela da Marisa Monte, ou então aquela que diz que “toda criança que nasce parece a primeira estrela-a-a...”, porque assim a música vai ficando mais internalizada, e quando finalmente sai aquela notinha difícil é bem mais gostoso.
Giuliana, eu sei! Eu te prometi um poema. Mas promessa de malandro é dose, você sabe, umas doses a mais e a gente promete até a Lua, sabe como é... Sem mais milongas, te deixo com um beijo e uma oração:
“Vinde a mim, ó música, musa única...”