terça-feira, 30 de setembro de 2014

Bolero Azul

Teus olhos antigos,
Dois camafeus
De pedra turquesa
Baixela de prata,
Caminho de mesa
Retrato pintado
Tinteiro azul

De Oxalunfã
Amor de Iemanjá
Mar da Bahia
Céu no verão
Pena da Saíra
Portão de solar
Flor de jacarandá

Teus olhos azuis,
Duas piscinas
Sempre vazias
A nota mais blue,
Na melodia
O dia que vai
Querendo ficar. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Contenda do Desejo

Rebelar-se contra um desejo
É em vão brigar para perder a luta
Pois o desejo é como Besta-Fera
Nos come o talo, as folhas e a fruta

Aos poucos chupa a polpa e o caroço
Deixando um gosto de gozo e bagaço
Não teme ácido nem cicuta: 
Amarra a boca e aperta o laço

Mas se inocente se rebelar o pobre
A este fogo que arde quanto pulsa
Não se fará vencedor mais nobre
Nem ganhador da contenda injusta

Fará apenas amargar por dentro,
E apontar com ares de repulsa
Àqueles que ao Desejo-Rei –Supremo
Não negam peito nem travam disputa,

Pois se é a vida um sopro passageiro
Que murcha feito a flor sob o mormaço
É do desejo o breve meio-tempo
Entre nascer e morrer de cansaço.