terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mais uma da série Relembrando....

25 de Maio de 2009


Das dores de Dolores


Dolores,
Eu te chamava porque tinhas tantas
Dolores, nem uma semana tinhas e ainda assim já tão cheia
De uma inconformidade, uma veia de não querer
Dolores,
Eu te amei porque eras frágil,
Eu te quis cuidar as dores,
Eu te quis encher a pança,
Eu te quis ver caminhar...
E que paradoxal desejo, quando tu respiravas e eu não sabia
Se era porque ficavas,
Ou se era porque ias,
Dolores eu te imagino não tendo.
Nem remoendo, nem torcendo o pescoço,
Dolores, eu te daria um osso,
Eu te mudaria pra sempre o nome
E jamais contaria a ninguém das tuas
Dolores,
E quando perguntassem, poderias apenas dizer-lhes
Que te chamassem de Maria.
Maria dos Prazeres.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Comemorando o aniversário do Tabuleiro, vou repostar poemas e contos do primeiro ano de publicações. Espero que gostem de relembrar!

21 de abril de 2009.

O tempo e o artista ( como já disse o grande poeta).


A arte, ao artista expõe.
É uma sátira ao íntimo, um delicado escracho.
Uma vez feito tinta, feito acorde ou palavra, tudo aquilo o que o artista é se esvai de si mesmo e preenche a grande tela:
Engana-te em pensares que serás infinitamente criador da vida!
A arte não aumenta! A arte seca, sua pelos poros, em cada pincelada, em cada nota. A arte é apenas o efeito de dissipar-se.
É por isso que os velhos vão perdendo o vigor de seus músculos, a cor dos cabelos e enfraquecem aos poucos a voz : tu, que és artista, vês um velho poeta a constuir um barco, vês os lábios murchos a sorrir e pensas.
Não foi aquilo que agregou, que comeu ou respirou o que vês. Mas sim, vês toda a arte que aquele velho já emprestara de si ao mundo, o quanto o coloriu.
Tu, artista. Que se expõe e se esvai, que murcha. Tu que és pescador, vês o velho e pensas:
Quanta beleza já emprestastes ao mundo!