quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Poema do Sempre-Ir

Pé de Ipê amarelo-ouro,
Repousando sobre o campo verde
O amor que tenho é demais sincero,
Mas é muito grande a minha sede

Noite preta que escorre do alto,
Recobrindo o verde da montanha
O amor que tenho é muito farto,
Mas bem maior a minha sanha

Rio esmeralda que serpenteia,
Rolando as pedras duras do caminho
O amor que tenho vive em minha aldeia,
Mas é do mundo inteiro o meu destino


domingo, 8 de janeiro de 2017

Doce lucidez

O amor quando vem chegando
Parece um pássaro delicado
Vai aos poucos desenhando
O seu ninho enfeitado
Põe no bico a voz mais doce,
E nas asas só carinho
Pra que assim o amor comece,
Bem fundado e bem mansinho
Seca as folhas do passado,
Tira as pontas dos espinhos,
E no canto mais bonito
Guarda a flor pro seu benzinho

O amor quando se mostra,
Tem a clareza dos rios
Tem a força das quedas d’água,
E não teme os desafios.
Vai aos poucos convencendo
Toda a margem que o rodeia
De que o amor revolve a terra
Toda vez que a luz clareia
Não é nunca o mesmo amor,
Mas quem ama e tece a teia
Bem conhece a sua face
E por ela se norteia

O amor quando só cresce
É o respiro da mata verde
É o calor das rochas vivas,
E o sabor da maresia
Ponte presa a duas almas
Sem estacas nem correntes
Construída da linguagem
Que só os amantes compreendem
É uma doce lucidez
Que se afirma todo dia:  
O amor nunca caberá

 Por inteiro na poesia.