sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Por Metálicas Espirais

Cheguei em casa feliz da vida, ela costuma ser sofrida por demais. Tirei os sapatos, abri dois botões da camisa. Uma bebida para alimentar o vício e pra rimar no plural, queria só ouvir Vinícius. O descanso da lida, essa vida comprida, que dia. Mas pelas mesmas espirais metálicas que um dia o Vininha recebeu a notícia da morte de Maria, por aquelas mesmas frias espirais, ouvi alguém chorar a morte tão dolorida, o triste fim do nosso amor.
Minha menina, como te amei. E te diria ainda que te amo muito se pudesse, se me permitisses, diria que fazes parte de mim como a espinha do peixe, como o pássaro faz parte do céu e como as baleias fazem amor. Mas fazes questão de desentender, e por favor eu te peço encarecida e repetidamente, por favor, não faças assim.
Fazes assim comigo só porque sabes, fazes assim comigo por acreditares que sou eu o culpado do fim. Mas pelo fim não há culpados, ou se necessário réu, a culpa é do tempo que passa, dos dias e horas deixados para trás a cada dia a menos que temos de vida.
Viver é nada além de uma triste caminhada em direção ao fim, com lampejos de alegrias no caminho...
Mas quem sou eu para te negar ouvidos, em tão frias espirais? Quem sou eu, teu amo e escravo, eu só me rendo e sofro por nada poder contigo ou por ti. E adeus Vinicíus. O meu vizinho se matou de solidão, e eu não quero que morras da solidão em que te encontras, és tão linda e pura, tens tanto por viver, meu grande amor. Um dia quando me permitires, eu hei de dizer-te tudo isso. Mas numa mesa de bar, rindo do passado, já melhores da alma, já crescidos do coração.
Vou desligar, eu preciso sair daqui. Me deixe desmaiar ao menos, já que não tenho a paz necessária para deitar e descansar. E se eu ainda tiver direito a algo, te peço que não chores porque sorrio, não doas porque tenho prazer, não te isoles porque me envolvo, não te abandones porque eu não te abandonei, eu juro. E não te lembres porque não me esqueço, não me acuses porque te perdoo. Não te mates, não me mate. Não te mates senão te bato o telefone na cara e vai doer ainda mais em mim do que em ti, acredite. Não te mates, não me mate. Essa dor é a dor exclusiva dos viventes e precisamos dela, para continuar amando. Para subjetivarmo-nos. Virarmos Pessoa.
Saí de casa sofrido da vida, ela costuma ser feliz por demais. Apertei os sapatos, fechei os botões da camisa. Um jornal a seco pra amargar os sabores, e como se rimasse no plural, queria só ouvir Dolores. O cansaço da lida, esta vida curta, que noite.

Um comentário:

  1. E toda dor parece cantiga quando se perde um grande amor. Mas digo perda daquelas definitivas, daquelas que não temos mais como remediar, ou saber, ou conviver, mesmo que de mentira, com raiva, magoado. Nada cura um coração que sangra a morte de um amor.
    "Ah, quanta gente sozinha ! A gente mal adivinha..."
    E seguimos rumo norte; a vida nos abraçando, apesar de tudo. Cansados... curtidos... vivos.

    Um beijo, minha linda. Amei suas palavras.

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