quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um certo choro no Bar Luiz

A noite feita de eclipse tornava as ruas ainda mais chamativas, pleno junho até no Rio de Janeiro faz frio. Noite perfeita para a solidão de um botequim antigo e para a alegria boêmia de uma roda de choro. Eram cinco quando sentei na mesa. O mais velho, solista, tirava agudos limpos e soltos de uma flauta transversa, enquanto conversavam os violões de seis e de sete em perfeita harmonia. Levada de cá, baixaria de lá, condução de cá, tome mais baixaria de lá, vai ponteio, vai ponteio!
O mais novo, no cavaco, era um competente serelepe. Fazia os pedidos, mostrava a que vinha, sorria como quem está onde mais gostaria de estar. E havia o gato, um pandeiro todo remendado e seco, que marcava e seguia sem firulas, ajudando aos companheiros e conduzindo a massa. Generoso pandeiro na mão de um forasteiro.
Era um remédio para um coração cansado de doer, era uma carícia para os ouvidos e para o corpo inteiro que junto do som vibrava a cada nota, compasso após compasso. Uma roda de choro e uma mesa de bar, era quarta-feira na Cidade Maravilhosa e assim como o ecslipe veio e foi, assim foi com minha solidão. O choro, bondoso amigo, levou em sí o pranto, pegou a tristeza e absorveu. O choro tirou de mim o lamento e levou para morar em suas melodias.
Mais tarde aprochegaram-se outros músicos mais, outro pandeiro, outro violão de sete cordas, mais uma flauta para a conversa, mas o que prendeu minha atenção foi um camarada manso com seu saxofone, um certo tipo quieto e cheio de humildade, mas quando soprou o primeiro acorde,o ambiente todo mais uma vez se transformou, e o delírio foi geral. Ou pelo menos eu acho que sim, que todos no recinto deliravam como eu, que ao ouvir a música mais linda que conheço, "Ternura" de K-ximbinho, quase me joguei na sargeta e me rolei de amores , junto dos outros tantos bêbados e insanos que habitam a velha Praça Tiradentes.
Na boca da noite, de uma certa roda de choro do Bar Luiz eu saí inebriada e curada da alma, eu saí tão mais crescida, eu saí tão mais feliz pela bondade desta terra de artistas para comigo. De um certo choro no Bar Luiz, eu sai agradecida por me ser permitido sentir toda esta alegria singela que mora no coração de quem ama a boa música brasileira.

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