Seu garçon, lhe peço sem vontade
Uma média e dois pão na chapa
Pro pão uma chapa bem quente
Pra média uma gota de mágoa
Bota neste pão a manteiga
E açúcar dentro do café
Capriche sem ser miserento
Tenha pena desta infeliz mulher
De amarga já me basta a vida
Tanta média para pouca atitude
Já se engole a seco tanta desdita
Já me resta hoje tão pouca saúde
Me traga agora na base de Noel
Uma boa média que não seja requentada
Que eu não estou disposta a ficar exposta
Mesmo vindo ao mundo pra ser condenada
Seu garçon, me traga depois
Uma boa dose de lirismo
Porque sem ele eu não dou cabo disso
É demais o mundo em seu egoísmo
O que pode senhor, uma triste mulher
Desejar desta vida além?
De engolir untado o desagrado
E empurrar goela abaixo o desdém?
terça-feira, 28 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Um certo choro no Bar Luiz
A noite feita de eclipse tornava as ruas ainda mais chamativas, pleno junho até no Rio de Janeiro faz frio. Noite perfeita para a solidão de um botequim antigo e para a alegria boêmia de uma roda de choro. Eram cinco quando sentei na mesa. O mais velho, solista, tirava agudos limpos e soltos de uma flauta transversa, enquanto conversavam os violões de seis e de sete em perfeita harmonia. Levada de cá, baixaria de lá, condução de cá, tome mais baixaria de lá, vai ponteio, vai ponteio!
O mais novo, no cavaco, era um competente serelepe. Fazia os pedidos, mostrava a que vinha, sorria como quem está onde mais gostaria de estar. E havia o gato, um pandeiro todo remendado e seco, que marcava e seguia sem firulas, ajudando aos companheiros e conduzindo a massa. Generoso pandeiro na mão de um forasteiro.
Era um remédio para um coração cansado de doer, era uma carícia para os ouvidos e para o corpo inteiro que junto do som vibrava a cada nota, compasso após compasso. Uma roda de choro e uma mesa de bar, era quarta-feira na Cidade Maravilhosa e assim como o ecslipe veio e foi, assim foi com minha solidão. O choro, bondoso amigo, levou em sí o pranto, pegou a tristeza e absorveu. O choro tirou de mim o lamento e levou para morar em suas melodias.
Mais tarde aprochegaram-se outros músicos mais, outro pandeiro, outro violão de sete cordas, mais uma flauta para a conversa, mas o que prendeu minha atenção foi um camarada manso com seu saxofone, um certo tipo quieto e cheio de humildade, mas quando soprou o primeiro acorde,o ambiente todo mais uma vez se transformou, e o delírio foi geral. Ou pelo menos eu acho que sim, que todos no recinto deliravam como eu, que ao ouvir a música mais linda que conheço, "Ternura" de K-ximbinho, quase me joguei na sargeta e me rolei de amores , junto dos outros tantos bêbados e insanos que habitam a velha Praça Tiradentes.
Na boca da noite, de uma certa roda de choro do Bar Luiz eu saí inebriada e curada da alma, eu saí tão mais crescida, eu saí tão mais feliz pela bondade desta terra de artistas para comigo. De um certo choro no Bar Luiz, eu sai agradecida por me ser permitido sentir toda esta alegria singela que mora no coração de quem ama a boa música brasileira.
O mais novo, no cavaco, era um competente serelepe. Fazia os pedidos, mostrava a que vinha, sorria como quem está onde mais gostaria de estar. E havia o gato, um pandeiro todo remendado e seco, que marcava e seguia sem firulas, ajudando aos companheiros e conduzindo a massa. Generoso pandeiro na mão de um forasteiro.
Era um remédio para um coração cansado de doer, era uma carícia para os ouvidos e para o corpo inteiro que junto do som vibrava a cada nota, compasso após compasso. Uma roda de choro e uma mesa de bar, era quarta-feira na Cidade Maravilhosa e assim como o ecslipe veio e foi, assim foi com minha solidão. O choro, bondoso amigo, levou em sí o pranto, pegou a tristeza e absorveu. O choro tirou de mim o lamento e levou para morar em suas melodias.
Mais tarde aprochegaram-se outros músicos mais, outro pandeiro, outro violão de sete cordas, mais uma flauta para a conversa, mas o que prendeu minha atenção foi um camarada manso com seu saxofone, um certo tipo quieto e cheio de humildade, mas quando soprou o primeiro acorde,o ambiente todo mais uma vez se transformou, e o delírio foi geral. Ou pelo menos eu acho que sim, que todos no recinto deliravam como eu, que ao ouvir a música mais linda que conheço, "Ternura" de K-ximbinho, quase me joguei na sargeta e me rolei de amores , junto dos outros tantos bêbados e insanos que habitam a velha Praça Tiradentes.
Na boca da noite, de uma certa roda de choro do Bar Luiz eu saí inebriada e curada da alma, eu saí tão mais crescida, eu saí tão mais feliz pela bondade desta terra de artistas para comigo. De um certo choro no Bar Luiz, eu sai agradecida por me ser permitido sentir toda esta alegria singela que mora no coração de quem ama a boa música brasileira.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Daniel vai viajar...
Daniel resolveu que vai viajar. Vai pendurar mochila nas costas e ganhar mundo por aí.
Sabe desde pequeno que menor é o mundo, já correu miúdo Oceania, já sempre viu o pai sair e voltar, sabe que mundo é morada de muitos mas que as coincidências também sendo muitas, fazem com que todos acabem nesta vida se esbarrando em algum canto de cidade.
Daniel meu amor, vai viajar, correr Zoropa de mochila nas costas, alfaia e violão.
Sabe que país é grande, mas menor é o mundo, desde garoto viu a irmã mais velha sair de mochila nas costas, foi morar tão longe que vinha rara, cheia de sotaques e novidades, ficava bravo se a desconhecia, mas hoje tambem já mudou de sotaque e arrasta mineiramente os uais e sôs.
Daniel meu moreno vai para uma terra que ouvi dizer ser cheia de tulipas, as mais belas tulipas, que se fosse outrora ele cuidaria com especialidade, saberia dos fungos e das pestes, mas hoje Daniel quer saber de tulipas só como presente pras namoradas, de flores só para enfeitar cordão de maracatu, para colorir fotos e cenas. Daniel quer das plantas as alucinações mais belas. O meu Daniel agora quer saber é de arte.
Vai menino grande, vai jovem homem abrir horizonte. Vai que hoje já sou eu quem mais te admira e este mundo velho sem porteira é todo seu. Eu cheguei primeiro só para te dizer que o mundo, meu amor, é uma maravilha, e que a arte é a única verdadeira razão da existência. A arte é o amor traduzido, é o espírito em forma e eu cheguei primeiro só para saber que um dia, quando chegaste a sua hora, eu seria aquela a torcer por cada dia de luz e sol em teu caminho.
Daniel vai viajar, vai correr estrada afora bem sozinho, como se nasce e se morre neste mundo. Vai ganhar experiência, vai se doar, vai amar, vai crescer, sentir saudade. De saudade um dia padeço eu de ti, carinho.
Vai Daniel! Vai meu Dandan virar passarinho...
Sabe desde pequeno que menor é o mundo, já correu miúdo Oceania, já sempre viu o pai sair e voltar, sabe que mundo é morada de muitos mas que as coincidências também sendo muitas, fazem com que todos acabem nesta vida se esbarrando em algum canto de cidade.
Daniel meu amor, vai viajar, correr Zoropa de mochila nas costas, alfaia e violão.
Sabe que país é grande, mas menor é o mundo, desde garoto viu a irmã mais velha sair de mochila nas costas, foi morar tão longe que vinha rara, cheia de sotaques e novidades, ficava bravo se a desconhecia, mas hoje tambem já mudou de sotaque e arrasta mineiramente os uais e sôs.
Daniel meu moreno vai para uma terra que ouvi dizer ser cheia de tulipas, as mais belas tulipas, que se fosse outrora ele cuidaria com especialidade, saberia dos fungos e das pestes, mas hoje Daniel quer saber de tulipas só como presente pras namoradas, de flores só para enfeitar cordão de maracatu, para colorir fotos e cenas. Daniel quer das plantas as alucinações mais belas. O meu Daniel agora quer saber é de arte.
Vai menino grande, vai jovem homem abrir horizonte. Vai que hoje já sou eu quem mais te admira e este mundo velho sem porteira é todo seu. Eu cheguei primeiro só para te dizer que o mundo, meu amor, é uma maravilha, e que a arte é a única verdadeira razão da existência. A arte é o amor traduzido, é o espírito em forma e eu cheguei primeiro só para saber que um dia, quando chegaste a sua hora, eu seria aquela a torcer por cada dia de luz e sol em teu caminho.
Daniel vai viajar, vai correr estrada afora bem sozinho, como se nasce e se morre neste mundo. Vai ganhar experiência, vai se doar, vai amar, vai crescer, sentir saudade. De saudade um dia padeço eu de ti, carinho.
Vai Daniel! Vai meu Dandan virar passarinho...
domingo, 5 de junho de 2011
O mundo dos Homens.
E agora que já haviam reconhecido em seus corações aquela estrondosa verdade, agora que já havia uma mínima calma em sentir aquilo que antes perturbava e que então se apresentava à razão estranho e confuso, havia o resto do mundo. O mundo além deste universo mágico e recente, acolhedor. Havia de se respirar fundo e mergulhar no mundo dos homens.
Sentaram-se lado a lado no concerto, fazendo uma tímida manobra teatral combinada anteriormente no carro, estacionado dois quarteirões distante. Primeiro um depois o outro adentrariam por portas diferentes, cumprimentariam-se como se não se vissem há dias e só então escolheriam uma fileira no fundo da sala. Encontraram logo após uma pilastra que escurecia ainda mais os assentos, e sentaram-se lado a lado. Que alegria sairem juntos para ouvir música da melhor qualidade. Havia mesmo certo frisson em manter este segredo, havia algo de sensual que acelerava os corações e fazia com que a música, forte como veio, os embalasse numa aventura sem par: enganavam a todos, menos aos próprios corações. Sorrateiramente, um às vezes encostava no outro o sapato ou o joelho, de lado como se estivessem comprimidos por tantas pessoas em volta e nem percebessem que haviam se tocado, mas por mais que assim se portassem para fora, nos corações este mínimo toque fazia folia, explodia em cores, aquecia.
Ao espreguiçar-se, o primeiro esbarrou no segundo um braço que esticou-se em mão numa carícia quase imperceptível. Ao inebriar-se com perfeitas harmonias, o segundo sorriu ao primeiro de canto, e foi como se lhe desse um beijo.
Mas depois voltavam a sua expressão de camaradagem e interesse pelo show, as mãos frias e os corações quentes, o exercício da dissimulação.
Era tão grande e tão belo este amor, mas como era mister ser velado! Porque impossível e indesejado a olhos ruins de maldade, havia de se manter um segredo, era demasiado impuro aquele lindo amor perante o mundo dos homens e do preconceito.
Eu derrubei-lhes os olhos sem querer e me comovi com seus gestos de ansiedade e medo, mas de cumplicidade e amor. Não os vi partir, mas tenho certeza de que foram juntos, para desafogarem-se de tal realidade e serem plenamente felizes novamente ao retornarem ao seu mundo de afeto.
Eu vi dois homens e dois mundos, para dois corações partidos.
Sentaram-se lado a lado no concerto, fazendo uma tímida manobra teatral combinada anteriormente no carro, estacionado dois quarteirões distante. Primeiro um depois o outro adentrariam por portas diferentes, cumprimentariam-se como se não se vissem há dias e só então escolheriam uma fileira no fundo da sala. Encontraram logo após uma pilastra que escurecia ainda mais os assentos, e sentaram-se lado a lado. Que alegria sairem juntos para ouvir música da melhor qualidade. Havia mesmo certo frisson em manter este segredo, havia algo de sensual que acelerava os corações e fazia com que a música, forte como veio, os embalasse numa aventura sem par: enganavam a todos, menos aos próprios corações. Sorrateiramente, um às vezes encostava no outro o sapato ou o joelho, de lado como se estivessem comprimidos por tantas pessoas em volta e nem percebessem que haviam se tocado, mas por mais que assim se portassem para fora, nos corações este mínimo toque fazia folia, explodia em cores, aquecia.
Ao espreguiçar-se, o primeiro esbarrou no segundo um braço que esticou-se em mão numa carícia quase imperceptível. Ao inebriar-se com perfeitas harmonias, o segundo sorriu ao primeiro de canto, e foi como se lhe desse um beijo.
Mas depois voltavam a sua expressão de camaradagem e interesse pelo show, as mãos frias e os corações quentes, o exercício da dissimulação.
Era tão grande e tão belo este amor, mas como era mister ser velado! Porque impossível e indesejado a olhos ruins de maldade, havia de se manter um segredo, era demasiado impuro aquele lindo amor perante o mundo dos homens e do preconceito.
Eu derrubei-lhes os olhos sem querer e me comovi com seus gestos de ansiedade e medo, mas de cumplicidade e amor. Não os vi partir, mas tenho certeza de que foram juntos, para desafogarem-se de tal realidade e serem plenamente felizes novamente ao retornarem ao seu mundo de afeto.
Eu vi dois homens e dois mundos, para dois corações partidos.
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