No bar onde me encontro, espero um grupo de chorinho que se ajeita para começar a tocar. Chega um homem de chapéu panamá, carrega um lindo jasmim nas mãos. Senta-se, pede um copo d'àgua, é certo que espera um amor.E assim me encontro também, sentada sozinha na mesa de bar, assim como este homem de flor em punho, buscando ao ouvir um chorinho bem-tocado afinar os meus ouvidos e a alma... Prepará-la, acariciá-la, como quem espera fazer com o amor, como aquele homem ali sentado de cartola, esperando o grande amor chegar em tom maior, arrebatando a então finda solidão.
Passou ele agora por mim e tímido cumprimentou conhecidos num sobressalto.
Descobriram seu segredo, ele espera de flor em punho um amor.
Amor perfumado e branco, forte e raro como um Jasmim do Cabo, que em Novembro alastra de paixão as ruas fétidas, que engrandece o mundo... e assim sou eu te esperando - música - assim sou eu ao ouvir Remelexo, de Jacob do Bandolim, assim sou eu também de flor em punho.
Contudo, assim que ele pediu uma cachaça, a mulher chegou de vermelho. O acha demasiado romântico, não sei se dura. Nem cheirou a flor, mal a olhou, duvido que se bastem. Chega ele para uma cadeira mais próxima, menos impessoal, como se a quisesse para sempre, como se enfim fizesse o pedido, mas não. Não, porque ela é fria, sorri demasiado, se apóia na mão esquerda sobre os cotovelos na mesa cansados, se fatiga do papo, dispersa. Nem tocou a flor que aguarda num copo d'àgua.
Penso: será que o homem de cartola e flor em punho se redime, será que é perdão o que pede? Será que chora ao choro de Jacob o arrependimento de erros idos?
Ela quer mudar de mesa, sentar lá fora onde se encontra a maioria das pessoas do bar. Tomar a fresca. Para ela que danem-se os músicos, dane-se a Santa Morena de Jacob, que reste a flor num copo americano abandonada pela esperada loira de cabelos tingidos.
De que lhe valem flores e cartolas, de que vale o choro chorado em harmonia pelo mundo todo, de que lhe valem uma flauta, pandeiro, violão, cavaco, bandolim e um sonoroso saxofone em perfeita congruência, de que valem a cachaça e o calor, que lhe importa o amor de outrem?
De que vale o meu amor, se é segredo, se é lamentado num samba-choro de Nelson Cavaquinho ou de Cartola?
Para quem vive samba e poesia, de que vale a vida senão um jasmim, uma cerveja gelada e uma mesa de bar, numa noite de verão brasileira?
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