À margem do que sinto por ti, está um pesar por coisas menores. Está à margem, pendurado em uma àrvore de finas raízes, o enxame do ciúme. Está também à margem a saudade, porque te tenho em minha canoa de um pau só. Está à margem o ouro, porque num rio caudaloso, tudo se carrega, porém nada se leva.
Está à margem tudo aquilo que não bóia, não flutua, tudo aquilo que não é natureza, que não é beleza, que não é amor.
Neste mesmo rio, ao qual as margens estáticas observam passar, moro eu, sereia d'àgua doce, moro eu, sua mulher. E este rio, nos conduz à vida, à queda e à cachoeira. Este rio é nossa vida.
À margem do que sinto por ti, está tudo aquilo que vivemos e aprendemos a deixar passar...e uma vez feitos àgua continuamos, leves, molhados, ferozes. Continuamos, carregando aquilo que se deve, e cuspindo à margem a tristeza, a nossa ida infância, e tudo aquilo que não é natureza, que não é beleza, que não é amor.
Uma vez feitos àgua, feitos rio, nos amamos eternamente. Pois o mesmo rio nunca passa duas vezes pela mesma margem, e a margem nunca mais será a mesma depois do passar do rio. Uma vez feitos àgua, feitos rio, jamais estaremos à margem de nós.
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