segunda-feira, 27 de maio de 2013

Redondezas

Tenho usado caminhar à toa
Sem rumo certo, errante apenas
Em horas tão cedo que ninguém se move
Ou quando melindram as tardes amenas

Vou pisando as calçadas de pés doloridos
Tornozelos cansados, pesadas chinelas
E sorrio pros bichos nos cantos famintos,
São bem como as deles as minhas mazelas

As ruas me levam em sua correnteza
Mas eu não sou pau! Mas eu não sou folha!
Não há fio de ferro que me corte o sonho
Não há pé de vento que o afinco me tolha

Se vou escorrendo, boiando nas ruas
Pisando as calçadas com patas dormentes
É que desde o dia em que vi os teus olhos
Meu corpo padece de algum mal latente:

Eu vou caminhando e pressinto holofotes
A brisa se move e carrega os cabelos
Me sinto mais bela, mais viva e mais forte
A Deus e à Sorte confio segredos

Tenho usado (sempre) caminhar à toa
Mas desde que eu soube que tu vives perto,
Esquinas do meu coração têm mais graça
E nem me recordo viver num deserto.

Um comentário:

  1. Como postei no facebook, é emocionante ler algo tão bem construído e tão delicado. É belo seu poema. Encantada...
    Lelê

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