quarta-feira, 4 de julho de 2012

Até Mais Ver

Amigo leitor, preciso te falar.
Eu também queria mais sinceridade, eu queria cantar olhando nos teus olhos sem medo, queria crer e cantar com a firmeza de quem pisa um chão de grama sem sapatos. Mas não consigo, nem posso. O mundo ficou assim, foi? Foi quando, quem fez? O mundo deixou aonde e quando a poesia sair de cena e tornar-se apenas um artificial modo de se falar da vida, ou de se ter saudade? Um esforço danado com resultados forjados.
Por que criar barreiras, nichos, trincheiras, absurdos entre nós, se somos apenas tantos, diluídos... caminhantes todos de um pareado destino final irremediável que nos apagará do corpo desta Terra - pobrezinha - desta Terra judiada, para toda a eternidade.
Se eu tivesse boca e coragem, gritava ao mundo que parasse para tomar um café bem brasileiro e pensar na vida. É tudo grande demais, complicado demais, caro demais para se viver. Ninguém mais pode ter um pedaço de chão. E o que faz um poeta sem uma cadeira para botar no jardim e um silêncio para fumar - sim, fumar - sob a lua, conversar com o mato, ouvir uma coruja? De onde o poeta pode tirar a beleza para falar da vida?
Os poetas só têm sentido se servirem ao propósito de suavizar a dor da caminhada em belas palavras e melodias, em cores mais lindas, mais perfumadas. Não? Tenho pena deste abandono, desta falta de amor e de palavras: asfalto, poluição, desmatamento, miséria, mesquinharia e concorrência não fornecem boas rimas.
Amigo, eu preciso te falar que continuo seriamente preocupada. Eu queria ter o direito de ser poeta. Mas estou cansada, tão cansada. Me obriguei a ficar vários dias sem escrever até que tivesse algo para dizer que não fosse pessimista ou uma reclamação. E não consegui, pelo jeito. Mas o silêncio e a amargura me trouxeram alguma consciência, creio eu. Não quero mais reclamar, estou me comprometendo comigo e contigo. Não tenho sido uma boa poetisa. Por isso me calarei ainda mais e este silêncio só vai terminar no dia em que eu voltar a crer na alegria, na juventude passageira da gente. Pode ser que não volte. Pode ser que a gente não acorde para uma nova maré, para novos ventos. E pode ser que apesar de nós todos inválidos, isso nem seja uma pena, pois ninguém vai sequer notar.
A vida, meu caro só vale a pena se olhada nos olhos. E eu vou com olhos de paisagem perdida por hora, até quem sabe uma sorte me faça encontrar num olhar amigo de sinceridade, a coragem, o desejo e a fé na gente.
Quando foi que eu fiquei assim? Viver é difícil, mas a alternativa ainda é pior.
Só sei que não vou com olhos fingidos, a isso me nego. Vou cega, vou vagueando.
Vou até mais ver.

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