O ciúme é um veneno
Que penetra carne adentro
E não há medicamento
Que do mal possa curar
É um velho ferimento
Flor aberta, sangue quente
Segue ardendo eternamente
Sem jamais poder fechar
O ciúme é entalado
Feito espinho na garganta
É uma dor que não se canta
Nem se ousa comentar
O ciúme sempre existe
Pois até quando não triste
Quem ama nunca se acha
Perfeito para seu par
O ciúme quando vem
É manada desenfreada
Atropela a namorada
E a casada também
Mas ciúme quem não tem
Nunca alguém amou a vera
O ciúme é uma quimera
Do afã de querer bem
segunda-feira, 23 de julho de 2012
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Daquele Ponto, Seguiu Amando
Todos dormem no coletivo: Segunda-feira, nem sete horas da manhã. O trocador com rosto oleoso e ainda bêbado abre os olhos vermelhos a cada parada e torna fechá-los em seguida, pendendo a cabeça sobre o pescoço molenga. Cada buraco no asfalto - é certo - lhe garantirá um belíssimo torcicolo tão doído e duradouro que lhe fará lembrar do porre de ontem até o próximo sábado. Segunda-feira, nem sete horas ainda. É tempo de começar a semana, mas não tão já. Mais quinze minutinhos de sono em vigília até o Alto Leblon (piscam duro olhos coloridos). Mais seis pontos pro Alto Leblon.
Parada. Entrou uma moça feia, mas já de batom. Deu bom dia ao motorista, ao trocador e a mim, que nada tinha a ver com a história e também bamba cochilava.
Sorria sozinha e sem motivo aparente. Na verdade, se não me engano flertou com o trocador nos dez segundos em que este se manteve de olhos abertos para rodar a catraca. Flor nos cabelos, sorriso vazando. Sentou-se no banco ao lado roubando minha atenção com trejeitos bem mais discretos que sua figura esquálida e nordestina. Abriu o zíper da enorme bolsa de napa cor-de-rosa e de lá tirou outra bolsinha brilhante com um estojo de maquiagem dentro. Abriu o espelho e começou a se admirar fazendo caras e bocas. Mais batom, mais pó. A difícil tarefa de passar rímel parecia uma dança ritmada com o trepidar de cabeça do trocador a cada buraco. A custosa tarefa contanto divertia-a, risonha. Era mais um disfarce que outra coisa. Era uma razão para olhar fundo em seus próprios olhos arregalados de segunda-feira manhã-cedinho e sorrir jocosamente, satisfeita. A mal-amada ao meu lado olhava desconfiada, a beata do banco de trás esconjurava, o trocador e o resto do coletivo dormiam. Ela apenas sorria:
Que noite de amor! Que noite! Era sim bonita, era sim capaz, gozava sim.Ai! Que semana bela pela frente, que lindo dia frio e chuvoso de alagamento no Rio de Janeiro. Que bom que Deus lhe dera aquele emprego de fome, que maravilha sua casinha na Providência, que sorte hoje de manhã ter havido água encanada para aquele banho de princesa. Que bom ter a maloca da vizinha para deixar os meninos que estão de férias, que bom que o ônibus parou no ponto sem encharcá-la, o guarda-chuva não virou e o amor aconteceu. O amor aconteceu no fim de semana e trouxe a alegria de viver junto da segunda-feira.
O amor coloriu a vida e os lábios de encarnado, como faz com qualquer vida de amador.
E eu, que apenas sofria, fiquei feliz pela cabocla. Tornei fechar os olhos e sonhei mil acontecimentos alegres. Ponto sexto, solavanco. Chegada ao Leblon e um cartaz pendurado no poste de luz:
" Amor não tem hora,
acordo nem projeto.
O amor é papo-reto "
Abri os olhos na segunda-feira, meio acordada, meio não.
A Macabéia seguiu amando.
Parada. Entrou uma moça feia, mas já de batom. Deu bom dia ao motorista, ao trocador e a mim, que nada tinha a ver com a história e também bamba cochilava.
Sorria sozinha e sem motivo aparente. Na verdade, se não me engano flertou com o trocador nos dez segundos em que este se manteve de olhos abertos para rodar a catraca. Flor nos cabelos, sorriso vazando. Sentou-se no banco ao lado roubando minha atenção com trejeitos bem mais discretos que sua figura esquálida e nordestina. Abriu o zíper da enorme bolsa de napa cor-de-rosa e de lá tirou outra bolsinha brilhante com um estojo de maquiagem dentro. Abriu o espelho e começou a se admirar fazendo caras e bocas. Mais batom, mais pó. A difícil tarefa de passar rímel parecia uma dança ritmada com o trepidar de cabeça do trocador a cada buraco. A custosa tarefa contanto divertia-a, risonha. Era mais um disfarce que outra coisa. Era uma razão para olhar fundo em seus próprios olhos arregalados de segunda-feira manhã-cedinho e sorrir jocosamente, satisfeita. A mal-amada ao meu lado olhava desconfiada, a beata do banco de trás esconjurava, o trocador e o resto do coletivo dormiam. Ela apenas sorria:
Que noite de amor! Que noite! Era sim bonita, era sim capaz, gozava sim.Ai! Que semana bela pela frente, que lindo dia frio e chuvoso de alagamento no Rio de Janeiro. Que bom que Deus lhe dera aquele emprego de fome, que maravilha sua casinha na Providência, que sorte hoje de manhã ter havido água encanada para aquele banho de princesa. Que bom ter a maloca da vizinha para deixar os meninos que estão de férias, que bom que o ônibus parou no ponto sem encharcá-la, o guarda-chuva não virou e o amor aconteceu. O amor aconteceu no fim de semana e trouxe a alegria de viver junto da segunda-feira.
O amor coloriu a vida e os lábios de encarnado, como faz com qualquer vida de amador.
E eu, que apenas sofria, fiquei feliz pela cabocla. Tornei fechar os olhos e sonhei mil acontecimentos alegres. Ponto sexto, solavanco. Chegada ao Leblon e um cartaz pendurado no poste de luz:
" Amor não tem hora,
acordo nem projeto.
O amor é papo-reto "
Abri os olhos na segunda-feira, meio acordada, meio não.
A Macabéia seguiu amando.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Até Mais Ver
Amigo leitor, preciso te falar.
Eu também queria mais sinceridade, eu queria cantar olhando nos teus olhos sem medo, queria crer e cantar com a firmeza de quem pisa um chão de grama sem sapatos. Mas não consigo, nem posso. O mundo ficou assim, foi? Foi quando, quem fez? O mundo deixou aonde e quando a poesia sair de cena e tornar-se apenas um artificial modo de se falar da vida, ou de se ter saudade? Um esforço danado com resultados forjados.
Por que criar barreiras, nichos, trincheiras, absurdos entre nós, se somos apenas tantos, diluídos... caminhantes todos de um pareado destino final irremediável que nos apagará do corpo desta Terra - pobrezinha - desta Terra judiada, para toda a eternidade.
Se eu tivesse boca e coragem, gritava ao mundo que parasse para tomar um café bem brasileiro e pensar na vida. É tudo grande demais, complicado demais, caro demais para se viver. Ninguém mais pode ter um pedaço de chão. E o que faz um poeta sem uma cadeira para botar no jardim e um silêncio para fumar - sim, fumar - sob a lua, conversar com o mato, ouvir uma coruja? De onde o poeta pode tirar a beleza para falar da vida?
Os poetas só têm sentido se servirem ao propósito de suavizar a dor da caminhada em belas palavras e melodias, em cores mais lindas, mais perfumadas. Não? Tenho pena deste abandono, desta falta de amor e de palavras: asfalto, poluição, desmatamento, miséria, mesquinharia e concorrência não fornecem boas rimas.
Amigo, eu preciso te falar que continuo seriamente preocupada. Eu queria ter o direito de ser poeta. Mas estou cansada, tão cansada. Me obriguei a ficar vários dias sem escrever até que tivesse algo para dizer que não fosse pessimista ou uma reclamação. E não consegui, pelo jeito. Mas o silêncio e a amargura me trouxeram alguma consciência, creio eu. Não quero mais reclamar, estou me comprometendo comigo e contigo. Não tenho sido uma boa poetisa. Por isso me calarei ainda mais e este silêncio só vai terminar no dia em que eu voltar a crer na alegria, na juventude passageira da gente. Pode ser que não volte. Pode ser que a gente não acorde para uma nova maré, para novos ventos. E pode ser que apesar de nós todos inválidos, isso nem seja uma pena, pois ninguém vai sequer notar.
A vida, meu caro só vale a pena se olhada nos olhos. E eu vou com olhos de paisagem perdida por hora, até quem sabe uma sorte me faça encontrar num olhar amigo de sinceridade, a coragem, o desejo e a fé na gente.
Quando foi que eu fiquei assim? Viver é difícil, mas a alternativa ainda é pior.
Só sei que não vou com olhos fingidos, a isso me nego. Vou cega, vou vagueando.
Vou até mais ver.
Eu também queria mais sinceridade, eu queria cantar olhando nos teus olhos sem medo, queria crer e cantar com a firmeza de quem pisa um chão de grama sem sapatos. Mas não consigo, nem posso. O mundo ficou assim, foi? Foi quando, quem fez? O mundo deixou aonde e quando a poesia sair de cena e tornar-se apenas um artificial modo de se falar da vida, ou de se ter saudade? Um esforço danado com resultados forjados.
Por que criar barreiras, nichos, trincheiras, absurdos entre nós, se somos apenas tantos, diluídos... caminhantes todos de um pareado destino final irremediável que nos apagará do corpo desta Terra - pobrezinha - desta Terra judiada, para toda a eternidade.
Se eu tivesse boca e coragem, gritava ao mundo que parasse para tomar um café bem brasileiro e pensar na vida. É tudo grande demais, complicado demais, caro demais para se viver. Ninguém mais pode ter um pedaço de chão. E o que faz um poeta sem uma cadeira para botar no jardim e um silêncio para fumar - sim, fumar - sob a lua, conversar com o mato, ouvir uma coruja? De onde o poeta pode tirar a beleza para falar da vida?
Os poetas só têm sentido se servirem ao propósito de suavizar a dor da caminhada em belas palavras e melodias, em cores mais lindas, mais perfumadas. Não? Tenho pena deste abandono, desta falta de amor e de palavras: asfalto, poluição, desmatamento, miséria, mesquinharia e concorrência não fornecem boas rimas.
Amigo, eu preciso te falar que continuo seriamente preocupada. Eu queria ter o direito de ser poeta. Mas estou cansada, tão cansada. Me obriguei a ficar vários dias sem escrever até que tivesse algo para dizer que não fosse pessimista ou uma reclamação. E não consegui, pelo jeito. Mas o silêncio e a amargura me trouxeram alguma consciência, creio eu. Não quero mais reclamar, estou me comprometendo comigo e contigo. Não tenho sido uma boa poetisa. Por isso me calarei ainda mais e este silêncio só vai terminar no dia em que eu voltar a crer na alegria, na juventude passageira da gente. Pode ser que não volte. Pode ser que a gente não acorde para uma nova maré, para novos ventos. E pode ser que apesar de nós todos inválidos, isso nem seja uma pena, pois ninguém vai sequer notar.
A vida, meu caro só vale a pena se olhada nos olhos. E eu vou com olhos de paisagem perdida por hora, até quem sabe uma sorte me faça encontrar num olhar amigo de sinceridade, a coragem, o desejo e a fé na gente.
Quando foi que eu fiquei assim? Viver é difícil, mas a alternativa ainda é pior.
Só sei que não vou com olhos fingidos, a isso me nego. Vou cega, vou vagueando.
Vou até mais ver.
domingo, 1 de julho de 2012
Quando Longe de Ti
Longe de ti, adorado senhor
Não sei de palavra que rime c`o amor
Eu abandonada sou tão descontente
A ré costumeira da mágoa crescente
Longe de ti, meu muso bonito
Eu nego-te tanto, eu sempre desisto
O meu coração é qual cela gelada
Lá dentro eu me prendo, triste e desgraçada
Tens dó desta escrava e sua valentia
Permitas que nunca suceda a alforria
Insistas amarrar-lhe os maus pensamentos
Ajudes domar-se de seus sentimentos
Pois longe de ti, meu senhor eu me entrego
E tudo renego, por tudo padeço
Longe de ti, sou só eu a culpada
Por sempre cair nas mentiras que teço.
Não sei de palavra que rime c`o amor
Eu abandonada sou tão descontente
A ré costumeira da mágoa crescente
Longe de ti, meu muso bonito
Eu nego-te tanto, eu sempre desisto
O meu coração é qual cela gelada
Lá dentro eu me prendo, triste e desgraçada
Tens dó desta escrava e sua valentia
Permitas que nunca suceda a alforria
Insistas amarrar-lhe os maus pensamentos
Ajudes domar-se de seus sentimentos
Pois longe de ti, meu senhor eu me entrego
E tudo renego, por tudo padeço
Longe de ti, sou só eu a culpada
Por sempre cair nas mentiras que teço.
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