quinta-feira, 29 de maio de 2014

Uma Mulher

Sou uma mulher sem requintes
Branca, comum, sem graça
Sou a mulher que caminha na praça,
Sou a mulher que voa na Lua
Sou mulher de coração sensível
De pés sensíveis, que se fere e dança
Sou mulher desde criança,
Mas duramente aprendi com Simone
Que me tornei mulher.
Mesmo assim, uma mulher qualquer
A do espelho e a das fotos,
A dos dias nublados,
Sou a que tantas vezes faz votos
Para descumpri-los tão somente.
Sou uma louca demente
Que mensalmente, sangra e chora
Que diariamente duvida e implora
Por ser esquecida no vácuo do mundo
Inda assim, mulher de amor profundo
De paixão doente, de dor freqüente
Revolucionária, quando falsa e carente
Reacionária, libertina e valente
Sou uma mulher diferente?
Ou que resiste, nas horas duras
Que sonha só nas horas futuras
Que cala só nas horas presentes
Sou atéia, mundana e crente
Sou a outra, a mesma e por sorte
Sou a que veio num Ita do Norte
Sou a que ancora ao Sul a saudade
Aquela que luta, aquela que cansa
Aquela que vinga por todas as suas
Aquela que passa invisível na rua
Aquela que fala e provoca rumores
Eu sou o que resultei destes anos
Eu sou a mulher que escolheu seu caminho
A dama de noite, a cheia de espinhos
Eu sou poetisa - meu dom, meu calvário.
Sou uma mulher de impressões amenas
Adulta e pequena, perante esta tarde
Eu sou uma mulher que no fundo, no fundo

Vive de inventar que existe de verdade. 

Um comentário:

  1. Lógica do paradoxo, da satisfação nas vontades insatisfeitas, da ocupação de direções múltiplas, pra assim poder inventar e fundar a alteridade na existência, e então seguir existindo. Riscar o chão e seguir dançando, ainda que se ferindo, é sim, é muito bom, quando acontece.

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