Sou uma
mulher sem requintes
Branca, comum,
sem graça
Sou a
mulher que caminha na praça,
Sou a
mulher que voa na Lua
Sou mulher
de coração sensível
De pés sensíveis,
que se fere e dança
Sou mulher
desde criança,
Mas
duramente aprendi com Simone
Que me tornei mulher.
Mesmo
assim, uma mulher qualquer
A do
espelho e a das fotos,
A dos dias
nublados,
Sou a que
tantas vezes faz votos
Para descumpri-los tão somente.
Sou uma
louca demente
Que
mensalmente, sangra e chora
Que
diariamente duvida e implora
Por ser
esquecida no vácuo do mundo
Inda assim, mulher de amor profundo
De paixão doente,
de dor freqüente
Revolucionária,
quando falsa e carente
Reacionária, libertina e valente
Sou uma
mulher diferente?
Ou que resiste,
nas horas duras
Que sonha
só nas horas futuras
Que cala só
nas horas presentes
Sou atéia,
mundana e crente
Sou a
outra, a mesma e por sorte
Sou a que
veio num Ita do Norte
Sou a que
ancora ao Sul a saudade
Aquela que
luta, aquela que cansa
Aquela que
vinga por todas as suas
Aquela que
passa invisível na rua
Aquela que
fala e provoca rumores
Eu sou o
que resultei destes anos
Eu sou a
mulher que escolheu seu caminho
A dama de
noite, a cheia de espinhos
Eu sou
poetisa - meu dom, meu calvário.
Sou uma
mulher de impressões amenas
Adulta e pequena,
perante esta tarde
Eu sou uma
mulher que no fundo, no fundo
Vive de
inventar que existe de verdade.