Pintou-se assim: Caminhava procurando alguma coisa, lugar ou pessoa por um chão vermelho que fazia dégradé até o alaranjado do céu. Pensei que estava no norte do Brasil. Aos poucos surgiam sons de tambores e cantos, que eu por alguma razão achava que era uma congada, embora a paisagem não sugerisse o mesmo ponto geográfico. Sem dúvida estava no Brasil.
Pelo meu lado direito passava um batalhão de homens montados a cavalo, todos vestidos de branco, com estandartes e grandes chapéus também sempre brancos. Percebia que o som saía deles. Olhava estática aquela passagem, um pouco contrariada, e depois virava e voltava correndo por onde eu tinha vindo, mas desta vez reparava que o chão era escorregadio, de barro liso e vermelho, muito molhado. Eu corria e escorregava naquele chão, descalça. O barro entrava nos vãos dos dedos, nas unhas e nas canelas e secava instantes depois. Logo meus pés estavam mumificados como um boneco de mestre Vitalino. Em segundos eu era uma boneca por inteiro, mas continuava correndo e pensando.
Não muito longe avistava uma pequena ponte na trilha a esquerda de uma encruzilhada e quando ia passar por ela e lavar os pés no alagado de água limpa e transparente que havia sob ela, uma moça me avisava para ter cuidado porque havia um jacaré ali escondido. Eu não tenho medo de jacaré, pensava.
Subia na ponte receosa, e olhava para a face do alagado. De lá de cima, via com muita ternura uma capivara com seu filhote, um jacaré com seu filhote e mais um animal que acho que era um leão com seu filhote, mas não lembro bem. Não devia ser um leão pelo ponto geográfico, mas foi a sensação que tive. Achei-os bonitinhos e fiquei com vontade de pegar a capivara no colo. Carolina, deixe a caça com seus filhotes.
Quando baixava minhas mãos secas de boneca de barro para tocar a água e diluir-me por inteiro, veio aquele clarão. Voltei.
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