Coração vadio, por que choras?
Não foi você quem me disse para me soltar, para enganar o amor, para brincar de vento pela cidade antiga, desacreditar de apegos? Então por que penas agora, coração, pela mazela de um porto seguro, pelo acalanto doce de carinhos? Não era tua canção um maxixe dolente?
Coração mesquinho, por que clamas?
Não era melhor solidão, liberdade das ruas, comigo-ninguém-pode, boca de carmim, dia não e dia sim, aventuras secretas, poesia farta, não te dou meu coração por nada neste mundo, meu eu mais vagabundo e insano, neste ano? Não era tua canção um samba-de-breque malandro?
Coração insano, por que mudas?
De verso para prosa com tal facilidade, agoras queres intimidade, aconchego, comidinhas, se você ficar longe o que será de mim, teu cheiro me embriaga e não o de mais ninguém, será que me acha bonita, usarei o vestido que mais gostas. Pensei que não era a tua canção uma valsa de amor!
Coração bicho-do-mato, por que erras?
Não sabes o que queres e na penumbra me deixas, zombas de meu peito caipira, me escangalhas, desdenha, brinca em mim saltitante, assim como a lua enchendo e maltratando a beira dos rios, descabendo do corpo, enlouquecendo a tôa, fazendo drama e alarde, ainda que tarde, já é muito tarde para mudar de idéia. E agora, coração, que me resta? Não era tua canção uma simples seresta?
Por nada haver além, só resta o agora! Mudas de seresta, confessa teu erro na valsa, clamas pelo malandro e segura o tempo neste maxixe dolente! Que és capaz de tudo comigo, coração. Porque em mim em tudo mandas. E porque sei que a mim não mentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário