segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um Carnaval

Eram tantos misturados, éramos apenas nós fantasiados de alegria aos montes. Foram dias de calor no sempre quente solo do Rio de Janeiro. Porém foram dias dotados de uma aura diferente, de uma catarse explosiva. Ebulição, calor e sangue. E além. Foi além, porque eu vi o poeta Ferreira Gullar sentar ao meu lado e sorrir para mim. O poeta riu da minha fantasia e disso foi feito mais que vida. Foi feita a vida que a gente desejava felicitar pelas ruas e deixar fingir, deixar jorrar. Inventamos do sorriso do poeta Ferreira Gullar a permissão para abraçarmos nossos irmãos pela primeira e última vez sem barreiras e beijar muito - beijar o mundo, em seguidos atos de carinho. Era o Carnaval envolvendo todos com seu mormaço e fornecendo o direito de fecharmos os olhos para a dor e de sermos felizes.

(E então neste momento me dirá o chato politicamente correto: " - Mas o Carnaval é o ópio do povo, nada se faz no Brasil antes do Carnaval, nenhum problema existe e isso, e aquilo outro e xurumelas..." E eu direi: " - Vai chorar pra lá seu chato! Vai porque eu sou poeta e só vivo do ópio, do sonho e da fantasia. Eu quero mais é que se dane tudo, tenho uma vida inteira para sofrer se for preciso, mas hoje não. Hoje é tudo poá e paetê.")

De duras já me bastam as verdades do mundo. Portanto ainda que eu me esfole, me lasque, me perca e enlouqueça nestes dias, ainda que tanta ilusão me cause feridas expostas, escancare meus medos e desejos mais absurdos e me desarme perante o espelho, eu vou me abir. Eu vou ser mais um coração na multidão, ou menor que isso, eu serei um glóbulo vermelho do sangue levado pelas veias e ruas da cidade ao coração da multidão pulsante ao som de "Cidade Maravilhosa".

Para citar o Chico pela última vez (ou que seja esta a derradeira mentira de Fevereiro): Carnaval, desengano.
Essa gente colorida me deixou sonhando...






segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cá entre nós.

Era eu ou era ela, esmagando e inflando o teu coração
Enquanto o Chico cantava bonito a melodia de "Tipo um Baião" ?

Era ela ou era eu, quem decerto te fazia lembrar
O lamento de senzala, donde se olhava a "Sinhá"?

Era minha ou era dela aquela malfadada cena
De acarinhar cabelos brancos, sendo ainda "Essa Pequena"?

Quem constará em seu "Querido Diário" como a mulher daquele dia?
Será que fui eu ou foi só ela, quem tarde ocupou tua cama vazia?


Ah! "Se eu Soubesse", ainda assim andava
Nas ruas sombrias de nossos velhos tempos
Mas cá entre nós, ninguém nos ouça!
Pois são meus e são teus estes segredos
Embora os tenhamos escancarado...
E ela não saiba da missa o enredo
Já não é mais meu, nem eu sou sua.
Da arte é a vida o arremedo!







sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ah! Os foliões.

Em homenagem ao sonorosíssimo bloco das Carmelitas


Então logo eu entendi - era o último ensaio do Carmelitas no pré-Carnaval.
Só sei que fazendo a lata de microfone ele cantava a saudosa marchinha:

“... Benzinho, não leve a mal
Só mais uma semana e começa o Carnaval
Me dê uns quinze dias pra poder pensar melhor
Se eu decido agora, te garanto que é pior

Carrego cá pra mim intuição
Ou uma espécie de superstição
Eu juro ser só teu o ano inteiro
Mas só depois que passar Fevereiro... “