Meu Deus, o que é que tem
Este tal de sincopado
Este gingado malemolente
Que bate no coração da gente?
O sincopado está na natureza
Do soluço ao tropeço
O sincopado é o começo
E o resultado da cadência!
Eu sonhava esta noite
Com um samba sincopado
Quando veio um galo ao meu lado
Querendo cantar também
E cantou tão dividido
No ritmo balançando
Que eu ali mesmo sonhando
O ouvi sincopar quém-quém
Daí fui eu quem catou cavaco
Com o tal galo das quatro e meia
Ele tinha a síncope na veia
Era um galinho garnizé
Agora veja, que beleza
Como ficou esta quadrinha
Sincopada do galinheiro
Ao terreiro de Fulôzinha!
Samba, meu amor mais querido
Eu sei fazer bom e rebolado
Faço breque,canção e partido
- Mas que tentação, meu amigo!-
Um bom samba sincopado.
quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
Retrato na Parede.
Na primeira vez em que pousei meus olhos sobre aquele retrato, nada me causou. Era ainda curiosa, pisava em ovos, achava até graça. Ainda não havia amor ou sombra de ciúme. Mas com o tempo, a cada vez seguida em que lá estive, a cada encontro com os olhos estranhos da mulher de outrora este sentimento se transformava.
Nem dor nem desespero. Comecei a sentir-me quase íntima daquele retrato. Nele, ela envolvida pelos braços em que agora eu me envolvia na cama revirada, sorria.
Então de vez em vez passei de ignorá-lo a percebê-lo, às vezes esquecê-lo - o retrato - às vezes fingir que não o via, outras fingir que ele não havia na parede imóvel, estático, lembrança feliz de um tempo atrás, mas não muito atrás. Ela, pássaro belo às vezes de cabelo solto, às vezes coberta em tinta, me sorria enquanto ele me amava. E de vez em vez do retrato me dizia que também sentia ciúme, outras gostava, e algumas vezes me mandava embora e dizia que ali quem imperava ainda era apenas si mesma. Era dona daquilo tudo que eu cobiçava por amor e me negava os olhos dele, o sorriso mais aberto ao lado seu. O retrato era a prova.
Certas noites eu me emudecia perante o barulho daquela imagem. Tremulava: roupa estendida no varal ao vento, corda de bandolim soando. Em outras, fazia do sussurro ao ouvido um grito, para que, quem sabe ela de lá escutasse: veja só, você é um retrato na parede, coisa do passado. Eu estou aqui.(Quem sabe era para que eu mesma escutasse e me convencece de que a realidade era mais do que um retrato na parede).
De manhã então passei a dar-lhe bom dia todos os dias. Em dias de calmaria da alma, por respeito às vezes também pedia licença para adentrar o quarto e tomar-lhe o que era seu em foto. Já me tornara tão próxima dela que a via em sonho, a imaginava andando pela casa seminua e me resignei após tanta insistência a dividi-lo com ela na fotografia.
Em nosso trato silencioso, ficou assim. Seria meu nas horas em que estivesse presente e dela nas horas anteriores ao retrato e para sempre lá congeladas no tempo. Era eternamente seu assim, e meu enquanto durasse este novo amor, na efemeridade tão óbvia do cotidiano.
Até que fossemos irmãs e, sendo feitas de fogo e tom, nos tornássemos tão próximas que congelada no futuro, também eu me tornasse um feliz retrato na parede.
Nem dor nem desespero. Comecei a sentir-me quase íntima daquele retrato. Nele, ela envolvida pelos braços em que agora eu me envolvia na cama revirada, sorria.
Então de vez em vez passei de ignorá-lo a percebê-lo, às vezes esquecê-lo - o retrato - às vezes fingir que não o via, outras fingir que ele não havia na parede imóvel, estático, lembrança feliz de um tempo atrás, mas não muito atrás. Ela, pássaro belo às vezes de cabelo solto, às vezes coberta em tinta, me sorria enquanto ele me amava. E de vez em vez do retrato me dizia que também sentia ciúme, outras gostava, e algumas vezes me mandava embora e dizia que ali quem imperava ainda era apenas si mesma. Era dona daquilo tudo que eu cobiçava por amor e me negava os olhos dele, o sorriso mais aberto ao lado seu. O retrato era a prova.
Certas noites eu me emudecia perante o barulho daquela imagem. Tremulava: roupa estendida no varal ao vento, corda de bandolim soando. Em outras, fazia do sussurro ao ouvido um grito, para que, quem sabe ela de lá escutasse: veja só, você é um retrato na parede, coisa do passado. Eu estou aqui.(Quem sabe era para que eu mesma escutasse e me convencece de que a realidade era mais do que um retrato na parede).
De manhã então passei a dar-lhe bom dia todos os dias. Em dias de calmaria da alma, por respeito às vezes também pedia licença para adentrar o quarto e tomar-lhe o que era seu em foto. Já me tornara tão próxima dela que a via em sonho, a imaginava andando pela casa seminua e me resignei após tanta insistência a dividi-lo com ela na fotografia.
Em nosso trato silencioso, ficou assim. Seria meu nas horas em que estivesse presente e dela nas horas anteriores ao retrato e para sempre lá congeladas no tempo. Era eternamente seu assim, e meu enquanto durasse este novo amor, na efemeridade tão óbvia do cotidiano.
Até que fossemos irmãs e, sendo feitas de fogo e tom, nos tornássemos tão próximas que congelada no futuro, também eu me tornasse um feliz retrato na parede.
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