Enamorei-me por um triste fado,
Sem jamais ter imaginado que podia.
Por acaso, nos lábios de uma cantora,
Este fado veio, a revelia,
Em notas tristes, sua guitarra que gemia
Fazia em prantos desabarem meus olhos colonizados
Fazia encanto aos meus ouvidos acostumados
A chorar os sambas, os choros e as quadrilhas
Ó triste fado, o que me fizeste?
Me deixaste louca, amarrada aos teus pés
Harmonias de sangue que outrora
Fizeram a glória,nos acabaram em contos de Réis
Meus conterrâneos brasileiros não me culpem
No samba hei de viver e hei de deixar a vida
Mas este fado, fora de conjuntura
Me deixou incômoda, apaixonada, aturdida
Deixe-me pandeiro, cantar apenas um fado
Deixe-me tamborim, escapar da ritmia
Deixe-me cavaquinho, apenas desta vez primeira
Ser apenas do fado, apenas por este dia
Seja por minha bisavó, Ferreira
Ou por meu tataravô, de Souza,
Ou pelo lado dos Camargo
Que amargo, saber-me moura!
Ai que lindo, chorar de amor,
Por um homem belo,atirar-me a deriva!
Tantos foram os grandes navegadores
Quanto é agora esta minha dor lasciva
Que corre ao ventre emocionado
Ó triste fado, ai quem me dera
Fazer Maria, deste teu legado
O triste legado emocionado
Que um dia Portugal nos dera!
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Carta a Vinícius de Moraes.
Rio de Janeiro, 25 de maio de 2010.
Querido Vinícius,
Você não me conhece, e pode até achar estranho receber uma carta a estas alturas, numa terça-feira em que no céu você deve estar muito ocupado com seus parceiros Tom, Baden e tantos outros, fazendo mil cantigas para os anjos boêmios.
Eu daqui da vida, busco seguir religiosamente seus passos,andando sempre em boa companhia, ouvindo boa música, tentando compor e cantando sempre, sempe.
Mas queria te perguntar uma coisa, poetinha (se é que assim me dá a liberdade para chamá-lo), como era em seu tempo? Era tão gostoso assim mesmo, as pessoas em volta de uma mesa, cantando sambas de amor, era assim que se fazia de verdade, ou será que inventaram tudo isso só para deixar um coração romântico como o meu crente? Eu queria tanto poetinha,tenho tanta saudade deste tempo em que eu ainda nem vivia, mas já devia saber que nasceria com esta sina. Vontade de ver os camaradas bebendo seus uísques, fumando seus cigarros e criando as mais belas canções numa terça-feira a noite como esta, quando se tem inspiração de sobra...Mas daqui, nenhum amigo por perto. E sempre penso:
"Se eu fosse o Vinícius, o que faria agora? Faria um telefonema e as pessoas logo viriam, felizes com seus papéizinhos e canetas, violões, flautas, bandolins, e se sentariam em volta de uma grande mesa com boa comida, para cantar a madrugada adentro?"
Ah!Como eu seria ainda mais feliz!
Mas hoje vejo algumas pessoas, que não sei, parece que nunca te ouviram, parece que não têm medo de não receberem perdão por não se doarem, por não abrirem o coração, por fazerem uma passagem abobada pela terra...Parecem que não falam com Deus ao ouvirem música, ao contemplarem o povo na rua, ao verem uma obra de arte, ou ao lerem um belo soneto de vossa autoria.
Se pudesse querido Vinícius, teria eu também vivido na época em que você viveu. Mas daí eu teria problemas com esta história de processo reencarnatório, porque acho que iria querer voltar mais e mais vezes para a Terra, em menos tempo do que deveria. Ou não, e então faria como você e ficaria com meus maiores parceiros aí no céu, que seriam recebidos com grande festa, e juntos permaneceríamos pelos tempos cantando e recitando poemas divinos o dia inteiro de chinelas para tantos anjos boêmios...
Claro que a resposta desta carta não virá tão breve, não no tempo dos humanos, nem no tempo do correio. Mas desejo sinceramente que venha em inspiração a mim, de sua parte.
No mais, espero que se divirta por aí com as belas almas, pois ouvi dizer que no céu as pessoas escolhem sua aparência eteral, e tenho certeza que tantas garotas devem estar por aí te paquerando e causando arrepios e rimas, quantas haviam por aqui.
Que teu espírito perdure sempre como parte integrante de nossos espíritos, e que quem sabe um dia, possamos nos encontrar. Mas espero que demore muito, com todo o respeito, se é que você me entende. Tenho pavor da morte. Só não é maior, porque sei que encontrarei uma grande festa de samba, quando chegar do lado daí, e logo esquecerei de tudo o mais, e viverei feliz por toda a eternidade, se Deus assim quiser...
Vinícius velho, Saravá.
Querido Vinícius,
Você não me conhece, e pode até achar estranho receber uma carta a estas alturas, numa terça-feira em que no céu você deve estar muito ocupado com seus parceiros Tom, Baden e tantos outros, fazendo mil cantigas para os anjos boêmios.
Eu daqui da vida, busco seguir religiosamente seus passos,andando sempre em boa companhia, ouvindo boa música, tentando compor e cantando sempre, sempe.
Mas queria te perguntar uma coisa, poetinha (se é que assim me dá a liberdade para chamá-lo), como era em seu tempo? Era tão gostoso assim mesmo, as pessoas em volta de uma mesa, cantando sambas de amor, era assim que se fazia de verdade, ou será que inventaram tudo isso só para deixar um coração romântico como o meu crente? Eu queria tanto poetinha,tenho tanta saudade deste tempo em que eu ainda nem vivia, mas já devia saber que nasceria com esta sina. Vontade de ver os camaradas bebendo seus uísques, fumando seus cigarros e criando as mais belas canções numa terça-feira a noite como esta, quando se tem inspiração de sobra...Mas daqui, nenhum amigo por perto. E sempre penso:
"Se eu fosse o Vinícius, o que faria agora? Faria um telefonema e as pessoas logo viriam, felizes com seus papéizinhos e canetas, violões, flautas, bandolins, e se sentariam em volta de uma grande mesa com boa comida, para cantar a madrugada adentro?"
Ah!Como eu seria ainda mais feliz!
Mas hoje vejo algumas pessoas, que não sei, parece que nunca te ouviram, parece que não têm medo de não receberem perdão por não se doarem, por não abrirem o coração, por fazerem uma passagem abobada pela terra...Parecem que não falam com Deus ao ouvirem música, ao contemplarem o povo na rua, ao verem uma obra de arte, ou ao lerem um belo soneto de vossa autoria.
Se pudesse querido Vinícius, teria eu também vivido na época em que você viveu. Mas daí eu teria problemas com esta história de processo reencarnatório, porque acho que iria querer voltar mais e mais vezes para a Terra, em menos tempo do que deveria. Ou não, e então faria como você e ficaria com meus maiores parceiros aí no céu, que seriam recebidos com grande festa, e juntos permaneceríamos pelos tempos cantando e recitando poemas divinos o dia inteiro de chinelas para tantos anjos boêmios...
Claro que a resposta desta carta não virá tão breve, não no tempo dos humanos, nem no tempo do correio. Mas desejo sinceramente que venha em inspiração a mim, de sua parte.
No mais, espero que se divirta por aí com as belas almas, pois ouvi dizer que no céu as pessoas escolhem sua aparência eteral, e tenho certeza que tantas garotas devem estar por aí te paquerando e causando arrepios e rimas, quantas haviam por aqui.
Que teu espírito perdure sempre como parte integrante de nossos espíritos, e que quem sabe um dia, possamos nos encontrar. Mas espero que demore muito, com todo o respeito, se é que você me entende. Tenho pavor da morte. Só não é maior, porque sei que encontrarei uma grande festa de samba, quando chegar do lado daí, e logo esquecerei de tudo o mais, e viverei feliz por toda a eternidade, se Deus assim quiser...
Vinícius velho, Saravá.
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